NA METADE DO DIA
FRAGMENTOS
Tudo lá fora mergulhara num silêncio de templos.
Emudecidos , os pássaros tão somente espiavam uns aos outros.
Da janela avistava-se a uma certa distância, a casa mais proxima
encolhida entre arbustos e duas araucárias gigantescas a sustentar-lhe o portão de entrada.
Sobre o muro do vizinho, um bichano fazendo alongamentos e naquela metade do dia - lavada de sol- ziguezagueavam borboletas entre uma papoula e outra.
Então distantes metades de dias iguais ,traziam-lhe os amores que não deram certo, as incertezas, os sonhos ,as frustrações e até alguns grandes momentos que naturalmente também vivera.
Nas papoulas do imaginário pousam-lhe agora borboletas de asas cambaleantes, enquanto o bichano - mergulhado na quietude - prossegue alongando-se sobre o muro da casa mais proxima.
Desenha-se um nostálgico começo de tarde e o olhar arredio de janelas na casa vizinha espia por entre os arbustos , um domingo a mais em sua existência.
E o mundo lá fora é de um silêncio de pedra.