PASSADO IMPERFEITO

Teu nome era um verbo irregular, defectivo, uma ação de primeira pessoa, uma reflexão quase obscena. Singular era a espiral de expectativas. Plural era o emaranhado de nós na garganta, nos dedos, no pensamento... Ser em ti era semear o gerúndio, cultivar o tempo num horizonte transitivo perdido de objetos. Permanecer em ti era buscar nas interrogações o motivo das reticências. Conjugar-te em mim era aos poucos perder o sentido da oração, retomar a leitura e subordinar novos significados as metáforas indecifráveis de algumas memórias. Mas teu nome, gerúndio de uma ação empobrecida com o uso, foi preterido nas entrelinhas de um longo parágrafo e permaneceu, imperfeito, como cicatriz de uma lembrança imprecisa.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 03/01/2008
Reeditado em 29/10/2010
Código do texto: T800655