corriqueiro
estive junto do sonho distante, com constantes desejos de parir uma vida bonita. pensei então em preparar o terreno arenoso. planejei a compra das lajotas alaranjadas, o cimento sem vida... desfiz tudo o que há do mundo para labutar nesse sonho, pois algo forte e intenso me dizia que sonhar é caminhar com o que se é.
assim, sonhei, planejei e fui. cavei fundo o meu chão com afinco de ser um alicerce seguro. levantei as minhas colunas, janelas e portas. passei a ver meu devaneio maior materializar à forma de um sonho real. no início, faltou insumos de mim para prosseguir; fui escasso de mim e então deitei novamente sob o piso imperfeito que me sustentava, senti o gelo do cimento pelado na pele fina, e de olhos fechados me revi. vi em mim o sonho laranja-sol, um brilho bonito como quando se vê a lua-noite brilhar no céu-dia... era o meu sonho. e, por mais que ora escapulisse, ele me pertencia, eu o pertencia.
depois do cochilo, afoito, continuei. apressado e mesmo que com tão pouco, eu quis torná-lo algo ainda em vida. percebi então que sonhos têm disso: tocar para ter, olhar para crer, imaginar ser e, apesar de nada disto pertencer, seguir-se a sintaxe.
agora me encontro encostado nessa mangueira fora de época que também devaneia. ela aqui plantada... eu, aqui, escorado imaginando estradas, uma pousada que me apazigue. um plano que despertença o sonhar. indo por aí me indo... desejando desprender de mim as feituras da vida. não querendo unicamente ter o que é grande, mas realizando desejos bobos sem algum plano seguro. aqueles desejos à margem do erro que nos passa longe. querendo ser eu tão inquieto quanto o sinal do choro da vida que clama em direção a estrela sol: - vive!