CIBELE
Na estrada que liga São Paulo ao Sul de Minas Gerais, está Cibele à espera de uma carona para algum lugar! Filha de mineiros conservadores foi ela expulsa de casa a pancadas.
Cibele; pensativa, lembra de tudo como aconteceu:
____ ...meu Deus! Como tudo isso aconteceu? Tenho vinte e seis anos, sou adulta e nada previa do que aconteceu!
____ Não era paixão! Era apenas um desejo de tornar me mulher! Ser virgem nunca foi minha opção, mas dos meus Pais! Agora é tarde!
Gravida de três meses, expulsa de casa e sem experiencia com mundo lá fora, via ela.
Um agricultor com aparência esquisita, para o caminhão cheio de batatas e lhe oferece carona. Não tendo muita escolha! Homem de rude e pouca conversa, a deixa na fronteira, desejando lhe sorte!
____ Moço, Moço?!
____ Que lugar é este?
O Caminhão barulhento já foi!
Cibele olha para os lados e só vê montanhas e um grupo de casa velhas lá embaixo ás margens do rio. Ela começa a descer devagar, pois não tem pressa alguma. Os olhares das poucas pessoas que passam por ela, deixam a ainda mais confusa. Chega até a praça e se senta! Bem à sua frente ela observa o “sinistro” lugar.
___ Que lugar será aquele tão longe do outro lado rio? Quem pode morar num lugar tão solitário assim?
No fundo, Cibele queria estar lá para esconder tua dor. Um velho “assustador” senta ao lado e começa à indagar a pobre moça:
___ ...o que faz? De onde veio? Como se chama? ....
Cibele se levanta e vai até a margem do rio, como se quisesse atravessar para aquela casa na colina.
Vem uma velha senhora e começa à perguntar tudo de novo: .....Cibele observa que a cidade é toda velha e terá que adaptar-se a tudo isto! Começa a responder as perguntas.
___ Agora é minha vez de questionar; Senhora? Quem mora naquelas colinas?
A Velha silencia por alguns segundos e responde:
___ Não queira “nunca” saber “filha”! ___ Por que senhora? Indaga Cibele! Responde a velha senhora:
___ Há anos a cidade que saber! E quem tentou chegar até aquele homem, estranhamente sumiu!
Falando assim, foi embora devagar!
Já escurecendo, Cibele “desesperada” teria que dormir ao relento; quando ouve passos calmos e firmes!
___ ...a bela moça vem dormir na minha casa!
Respondeu Cibele; chorando: ___obrigado!
Não se contendo a curiosidade, questiona Cibele novamente a bondosa senhora:
___ Senhora; quem mora naquelas colinas?
___ Moça! Preste atenção; não queira saber isso!
___ Por que senhora?
Responde a senhora:
___ Amanhã é dia que ele virá; se quiser saber é só ficar em frente ao armazém do Sr. Jonas e saberá!
Indagou Cibele!
___ Mas como vou saber? Responde a Senhora!
___ Saberá!
Mal o Sol “nasceu” e Cibele estava na porta do armazém. Observava atentamente cada pessoa que entrava e saia. Um homem de cabeça baixa, calcado de chinelos e com uma sacola de palha entra no armazém. Todos cochicham; as poucas crianças aproximam e ele as entrega umas frutas nativas, mas não olha nos olhas delas. Cibele o observa de longe! O homem se ai ignorando a todos!
Ao amanhecer; no dia seguinte, Cibele sai em “segredo” deixando um bilhete à Senhora, agradecendo! Em direção as colinas, sai em longa caminhada.
Já escurecendo, cansada chega a um portão coberto de ervas e Primaveras floridas; empurra devagar e adentra curiosa. Subindo as escadarias de pedras, quando olha. Imóvel com um cachorro na coleia o mesmo homem do armazém sem dizer uma única palavra solta o cachorro. Desesperada Cibele sai correndo entre as arvores do pomar. O homem, por sua vez, observa!
___ Sultão, Sultão...
Chama o homem pelo cachorro, este não aparece! Ele insiste, mas não adiantou. O homem sai em tua direção. Estarrecido, vê o animal lambendo os cabelos de Cibele, caída no chão; gemendo de dor! O homem vacila um pouco entes de se virar e sai caminhado lentamente para casa.
Já é tarde da noite, as luzes permanecem acesas; o que não de costume. O homem anda de lado a outro inquieto.
___ ...o que há comigo, murmura ele!
Abre a porta depressa e sai no meio da noite à procura da moça! Ela permaneceu no mesmo lugar com o cachorro ao lado dela. O homem aproximou-se e apalpa a jovem e percebe que está desmaiada. Ele a pega nos braços e a leva para dentro! Vai até a varanda e pega algumas folhas em um vaso. Faz um chá bem forte e dá de colheradas na boca de Cibele! Os lábios estão roxos e a palidez é visível no rosto sereno da moça. Ele não para de olhar enquanto ela “parece” dormir.
Cibele, desperta com a luz que vem da janela; observa o lugar estranho cheio de telas; são pinturas representando Natureza Morta e outras Abstratas e uma tela que estava coberta com pano amarelado, chama tua atenção!
O homem entra pela porta dos fundos trazendo na smãso um cesta de legumes frescos e os coloca sobre a mesa bagnçada.
___ Onde estou? Por favor!
Ele não responde.
___ Meu nome é Cibele! E teu?
Em silencio ele traz um copo de chá e entrega a ela, virando para uma das telas já começada e começa a pintar!
___Por favor, aonde estou?
___ Você é mudo? Não é? Talvez surdo também! Não se faça de arrogado, ouvi você chamar o cachorro; então porquê não fala comigo?
Cibele levanta e cai! Ele a ajuda e percebe que esta ardendo em febre!
___ Vá tomar um banho, você está ardendo em febre! Diz ele.
___ Até que enfim você falou
Respondeu o homem;
___ Fique aqui até melhorar, só tem uma condição!
Questiona Cibele:
___ Diga!
___ Não fale comigo, não faça barulho! Retruca o homem!
Cibele toma o banho e sai com a tolha enrolada nos cabelos e vestida com um roupão que encontrou atras da porta!
Tudo permanece calmo, já se passou um semana. A casa esta em ordem, o trato sendo cumprido e tudo parece normal.
Cibele balança em uma rede e seus cabelos fazem o mesmo movimento; quando suavemente ele diz:
___ Meu nome é Rui; Cibele!
Os olhos da moça parece saltar.
___ Você já melhorou, agora fora, com o tom de voz áspero! Diz ele rispidamente.
___ Não tenho para onde ir! Responde Cibele.
___ Volte para de onde veio! Disse ele grosseiramente!
Desesperada, Cibele fala:
___ Vim de muito longe e estou gravida!
O homem, a agarra pela blusa muito furioso e diz:
___ Veio de onde? Só para me atormentar? Responde Cibele:
___ Não! Eu nem te conhecia!
Ele então a solta jogando-a ao chão com violência! Descendo as escadas e some correndo em direção ao rio. Já escurecendo ele retorna.
___ Desculpe, diz ele.
Cibele responde:
___ Só tem uma condição!
___ Qual? Questiona o homem!
O homem responde:
___ Esta bem! Concluiu:
___ Sem muitas perguntas; tá? Moro aqui a vinte anos e ninguém naquela cidade velha sabe meu nome!
___ Desculpe me, por favor! Disse Cibele e continuou.
___ Você ficou sozinho todo esse tempo, aqui? É por isto que tem tantas telas pintadas? Por que não expõe?
Indignado, o homem disse:
___ ...sem muitas perguntas! “Risos”!
Como falasse com ela mesma, murmurou:
___” Tudo indica que Rui, dormiu todo esse tempo, com suas lembranças amargas; o vento que soprava, o Sol, a escuridão da noite passasse sem que ele visse nada! Parece ter acordado para tudo isto, eu o vi sorrir!”
O amargo olhar não escondia que atras daquele “sorriso” escondia um mistério que Cibele queria descobrir.
Na manhã seguinte, Novamente, Cibele comentou com ela mesma:
___” ... o surpreendei observando-me. O silencio das tuas atitudes me incomodava; eu me sentia livre, segura e nem lembrava mais dos meus “problemas”!
Rui, via Cibele como algo novo para ele, mulher de beleza rara em descrever; Os cabelos como ouro derretido caindo sobre ombros. Olhar sereno, os lábio em movimento parecia tremer; sempre úmidos, as mãos em gestos desliza nos objetos com ternura.
Rui está surpreso, mas feliz, leve e vendo tudo à volta. Fugindo da rotina, desce até o vilarejo; o titi dos velhos aumenta quando vê que tua cabeça, agora erguida e dirigindo o olhar a algumas pessoas.. Sua sacola esta mais cheia desta vez.
A boa senhora que acolheu Cibele observa de longe. Cossa a cabeça com ar suspeito de malicia e sai devagar em silencio!
Já é tardinha com chega em casa e grita como se estivesse enlouquecendo e braveja:
___ Moça “maldita”! O quê você fez?
Cibele chega correndo!, Quando Rui fala:
___ Porquê descobriu minha tela? Responde Cibele:
___ É a pintura mais bela que já vi, por isso!
Rui volta a cobri a tele com raiva. Pintura de rara beleza, uma mãe com o filho nos braços; dando a impressão de Nossa Senhora com Jesus pequenino.
Cibele começa à entender vagamente do que se trata, mas não faz perguntas.
Já com oito meses de gravidez nada de anormal acontece.
Madrugada fria e chuvosa, Cibele começou a passar mal.
___ Me ajude Rui, estou mal!
Cibele surpreende a ver tanta eficiência, em um minuto estava, Rui; tentando fazer funcionar o motor do velho Jipe encostado!
Desceu a colina com cuidado, porquê chovia muito, enquanto a moça parecia desmaiar. Chegando ao vilarejo, não tinha médico no Posto de Saúde local! Uma funcionaria de plantão disse:
___ É melhor o Senhor leva-la ao hospital mais próximo, o qual fica a uns quilômetros daqui!
Rui, fala calmo como quem sabe do que se trata; dizendo:
___ Ajude me aqui; traga ela para dentro, porquê não dá mais tempo!
Em uma sala pequena mais limpa e com alguns equipamentos para pequenas cirurgias. Começou o “ritual;” muito familiar para a enfermeira, a qual questiona:
___ O quê o senhor está fazendo?
___ Uma cirurgia “minha” filha! Responde, Rui.
Cibele arregalou os olhos, não sabia o quê era maior, a surpresa ou dor que sentia. Ela fala quase murmurando:
___ Você é médico?
Em silencio, Rui continua; em um “improviso” nasce o bebê! Diz Rui tranquilamente e sorrindo!
___ Você acaba de ter um lindo menino, Cibele! E complementa:
___ Cibele, agora posso contar! Tudo começo assim com um parto e terminou também como um! Continuo ele: ___ “Minha mulher, a da tela, morreu por incompetência minha. Bêbado, em prostibulo de mulher e jogo, deixei minha mulher só, assim como aqui, procuraram por um médico e não acharam; quando cheguei era tarde!” Minha incapacidade chegou a tanto que me refugiei aqui, graças ao destino, você me fez acordar para a vida e ver que o amor é capaz de salvar vidas e nos dar vida!”
O homem das colinas agora visto como bons olhos, agora é o médico aqui do Vilarejo.
FIM
O texto acima, foi escrito por Ana José Martins em 14 de Setembro de 1982.