Poema siamês

o que pode

o poeta

e sua poesia

que alfineta

duras e

surdas

pedras?

(clarins

e trombetas

e poeiras

de escombros)

o que pode

o seu

discurso

afastado das

amenidades

engodos?

(assombrações

mortas-vivas

ainda hoje)

o que pode

e o que não

pode ser

escrito

para o

conforto

dos olhos?

(o futuro

em cárcere

enseja

liberdade

pleiteia

cessar-fogo

granjeia

migalhas

para a

sobrevida)

o que pode

ser feito

pela paz

retórica

de antagonistas

e suas

palavras

de entrechoque?

(bestas

feras

indomadas

adornadas

pelo santo

manto do

sadismo

espalham

bençãos

de horror)

O que pode

a norma

culta

acadêmica

prover

socorro

aos desvios

de sentido

e à polidez

diplomática

que festejam

a barbárie?

(a brutalidade

deita-levanta

de pantufas

pijamas

com estampas

do Mickey Mouse

brinca de

rei e rainha

toma chá

pontualmente

às dezessete

horas)

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 21/02/2024
Reeditado em 21/02/2024
Código do texto: T8003758
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