Ventilador
Na utopia dos ventos ele subsiste pensando neste calorento anoitecer. Fixa os olhos sobre a hélice cortando os giros infinitos, perfeitos como a luz esférica luzindo a pele lânguida, e a cabeça imparável. Os cabelos dançam no seu impávido rosto, escarnecendo, a quem pudesse ver, o espírito partindo de seu corpo. O frescor sossega a carne, mas é como se a lava da consciência suasse sua energia vital. Derrete os órgãos vazios, os olhos, os dedos insones; a desculpa que ele dá a si; a dor de viver sequelas por ser inapto; o “eu te amo” partido por um amargor terrível. Sente derreter tudo, perece junto à realidade distópica que a lâmpada fita a decrepitude das sombras. As cinzas dançam no ventilar do cabelo. O vento continua ventando, seu pensamento passa e passa… E sua vida o vento levou.