Gulodice
Dos excessos me esvazio. Vou com sede demais aos potes.Transbordo, me lambuzo, mergulho. Lá do fundo olho tudo ao redor, nada mais faz sentido. A melancolia espreita. Sinto pesar o corpo. A preguiça me abraça. Sei que é o começo. De tempos mais criativos. Do caos que abrasa o calor dos desertos. De tempestades. Crescimento. Li alguns textos de fim de ano, essa é a palavra mais recorrente. Crescimento. Depois do salto para além das muralhas só há expansão. Ainda que regrida. Mesmo me encolhendo no mais escuro do bosque. Cresço. Em inconstante movimento contínuo de amar cada versão de mim mesma. Hoje não faz sentido, amanhã se torna um desejo do fundo da alma. Como explicar tudo isso? Será que preciso explicar o que nem eu entendo? Há mesmo que existir razão para mudar de ideia, roupa, vontades…? Nenhum segundo após o outro somos a mesma pessoa. No palco da vida o tempo corre depressa. Se os olhos não estiverem atentos, seremos surpreendidos. Por isso aprendi a perceber minhas vazantes. A maré cheia é pôr do sol em dia de verão. Tão linda! Até que me empolgo, saio dançando com os pés descalços afundados na areia escaldante, e quero mais, e mais, e mais… Durmo exausta, desperto oca. Olho ao redor, busco respostas, só encontro vazios… Já sei, compreendo, paciência, logo virá o outono, outra estação, outros tempos, outros…
*Si*