Vazio
O silêncio espatifa-se no escuro e estende-se em ecos de solidão pelos cantos da madrugada.
Cultivo saudades quase sem nunca semeá-las. É que das emoções, os restolhos saltam tocados pelas pontas dos momentos lindos vividos, misturados no fertilizante das dores sentidas depois. É que a vida é coletânea de pedaços, refletida sempre num espelho de inteiras ilusões.
O tempo é de longas datas caminhando sem sair do lugar. Espia o universo sem se importar com as dimensões.
A madrugada está mesmo muito triste! Talvez seja porque a luz da minha sala amputou impiedosamente uma parte do escuro nos beirais de minha janela quando a abri.
A cidade dorme nua pelo chão, carregada de sonhos e pesadelos.
É uma quietude estranha que carrega no colo indefinições e todos os receios possíveis.
Recosto-me no sofá e vou prosear comigo mesmo. Lá fora, por entre nuvens rasgadas, o luar exibe a pauta branca esperando poesia.