Em busca
Por onde andam os sonhos que não tenho sonhado? Devem estar junto da paz que não tenho sentido... Ocupada demais em estar, esqueci-me de ser e, principalmente, de sentir.
Tenho vivido em função das quase realizações dos sonhos, o que torna a paz interior meio que impossível de se encontrar.
Muito pior do que a convicção do não e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata, trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Basta pensar nas oportunidades que me escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca saíram do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que me leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses sejam bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, o sentir ou o nada; mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, como o dizem, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris teria tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que trago dentro de mim.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-me somente paciência... Mas há um porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar a alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance e não deixar que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar é o segredo do encontro da tão sonhada (ou não) Paz interior...
Talvez eu fuja de casa aos 80 anos como o Quintana, afinal, nunca é tarde para se realizar os sonhos.