Linha do Tempo
Se você não vem eu acendo incensos e velas. Ponho na vitrola aquele vinil que não ouço há anos. Abro um vinho. Saio dançando pelos espaços vazios da casa. Depois espalho as flores de lavanda na água quente da banheira e mergulho para relaxar. Porque já não tenho tempo para esperas infinitas. Ansiedades desmedidas. Fiz da solitude minha companheira e descobri esse mundo mágico de compartilhar a vida comigo mesma.
Ah! Se você vem a poesia fica assim... interrompida. O coração faz festa. Já não existem os espaços vazios da casa. Dançamos juntos. A vida tem outras cores. O tempo pára. Eu vivo o momento intenso da nossa partilha. Me entrego na certeza que outra vez pode não acontecer. E me sinto plena, inteira. Porque sei que a cada despedida o mundo volta a ser só meu. Preenchido pelo eco da sua presença em tudo. Livre da necessidade de ser par. Sigo feliz sendo ímpar.
Quando amanhece o dia, a palavra pulsa, queima feito sol de verão no inverno gelado sob a neblina densa. Atravessa a tênue linha do tempo e o meu universo interior está de volta ao seu lugar. Nada há além do silêncio. De lembrança vaga das outras possibilidades. Melhor nem buscar significados, sentidos ou razão de ser. Só permitir nascer. Vazante de fogo criativo. Poesia e nada mais…
*Si*