Nós enverga, mas não quebra

Nao fui expulsa de casa.

Eu fui é em bora pois, embora tenha sido amada na infância, o final dela veio carregado de dúvidas e incertezas e a adolescência chegou pra mim num mundo virado de cabeça pra baixo, justo numa fase onde a vida se define.... depois dos 13 Foram 7 anos para criar força pra voar, largar o ninho e mudar de rumo, saltando de um barco desgovernado em mar revolto de altos e baixos.

Foi.

Foi-se.

E sai literalmente com a mao na frente e a outra atrás, pedindo dinheiro emprestado pra comer, vendendo almoço pra garantir a janta.

A vida sem pai nem mãe me doeu demais. Mas enfreitei a dor.... me vire!

Vendi sanduiche na praia,

Fiz faxina

Fiz animação de festa infantil,

Fui caixa,

Operadora de telemarketing

Vendedora,

Na faculdade vendi bolo, bijoux, langerie, fiz " mil" estágios.

Tornei-me professora, geógrafa, analista ambiental, pesquisadora

Sou o sonho da minha criança artista: interventora, poeta-cantora-compositora, produtora, protagonista

Fui eu por mim mesma durante anos, com uma ajuda aqui e acolá, morando em um monte de lugar:

BOTAFOGO

SANTA TERESA

COPA

CATETE

CACHAMBI

CASCADURA

MEIER

TIJUCA

Vila Isabel

FUNDAO

e de novo VILA ISABEL onde juntei as escovas de dentes e fixei residência.

Desde que eu me conheço como gente, aquela menina que vendia bombom na escola aos 12, e teve sua primeira carteira assinada aos 17, vem se construindo superando a solidão, o abandono, e a vida como ela é : tocar ela pra frente,

Sem desistir de tentar

Sem desistir de estudar ( Prometi pra Dona Angélica), seja lá o que for...

E tal e qual, estou eu aqui, no ano de 2024, aos 47 ( rumo aos 51!!).Há que pertenço?

Ao meu processo de cura e luta

Ao projeto de intervir no mundo para um mundo melhor

À ser melhor a cada dia pra mim mesma antes de ser pro mundo ( ser honesta comigo mesma, cuidar de mim, desenvolver meu amor própio - e dar pra mim tanto quanto dou ao outro), e claro, não me comparar....

Eu só preciso enchergar o real tamanho que tenho.... o mesmo tamanho que todas as pessoas importantes da minha vida

Saber saber: e me caber... me bastar

Sabe, cada um sabe de si.

Cada um tem sua história.

E eu busco ter orgulho da minha

E hoje acho que tenho motivos pra comemorar

Meus filhos

Minha familia ( construida com cumplicidades ao longo dos anos)

Minhas amigas e amigos

Minha casa

Escrevo, canto, pinto, danço, leciono e trabalho nos processos de cura

Mas o que me importa mesmo é jamais perder minhas asas ( e nem minha ternura)...pra voar e me fazer livre quando puder e à mim convier.

Disso não abri mão!!!

Sou uma índigena de coração ( decobri lendo " Enterre meu coração na curva de um Rio") e o foco da minha vida é lutar contra as injustiças sociais - a começar por mim.

Sou quantas e tantas Flávias que eu quiser e puder: mãe, militantante, artivista, protagonista. Amiga.

E tudo eu mudarei quantas vezes forem precisas e eu assim desejar: " Prefiro ser essa metamorfose ambulante".

Da minha vida, apesar de traumas, fui, mas não sou mais vítimas. E se quiser me julgar..... não poderás não julgar...atire a primeira pedra. Tudi bem, não sou de vidro, não vou quebrar.

Nós inverga mas não quebra.

#flaviavalencalimapoeta

Flavia Valença
Enviado por Flavia Valença em 02/02/2024
Código do texto: T7990651
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