Colheita

Quando não há inspiração colho palavras ao léu. Costuro sentidos impossíveis. Remendo frases soltas. Deixo livre as possibilidades atadas à necessidade de ser algo. Melhor não existir o vazio. Assim nada há que ser preenchido. O desejo aquieta as emoções. É só mais uma realidade inventada. Mentiras para apaziguar o coração inquieto. É preciso escrever. Mesmo que sem disciplina. Sem nenhum esforço técnico. Um suspiro agudo de alívio. As palavras derramadas sobre o tapete. Onde me deito e observo o luar. Tudo em branco. Nuvens. Espelho. Folhas. Não! Não tem inspiração pra hoje. Não tem história pra inventar. Nada para acontecer. Os dias seguem soltos. As linhas tortas traçam caminhos inusitados. Do que não existe, muito pode ser construído. E aí está. O abismo. Tantas folhas amassadas, espalhadas pela casa. Tentativas, e erros. Tropeços, e queda. Silêncio. A mente barulhenta nada cria por agora. Melhor permitir que o inesperado faça a sua mágica. Assim,do nada, venham a surgir outros tantos vazios. E isso é tudo.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 29/01/2024
Código do texto: T7987620
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