Vermelho obsessão

O amar as vezes bate forte, é difícil domar o que toda vez é fera diferente. É assim:

Primeiro parece com uma doçura gigante, sem tamanho, igual sorvete. Você sorve ar, e ele, o ar, é tão leve como suspiro, mas assim rápido como veio, vira secura de garganta.

Amar é medo. Medo de sombra na parede e trovão.

Amar é a sensação também de ser holístico, vidente. Um imaginador imparável.

Por exemplo; você está vendo tevê, vê uma série em que a personagem está pintando as unhas e aí você imagina que cor, qual cor a pessoa amada usa de esmalte, agora, no exato momento.

Vermelho? Mas que vermelho? Apenas "vermelho" é muito vago. É um "Vermelho cereja"? ou mais pra um "Vermelho obsessão"?

Aí você fica bravo consigo mesmo por não conhecer tantas cores de esmalte assim, fica bravo por que, no fim das contas, não sabe muito sobre quem você diz tanto amar, sobre essa decisão tão cotidiana, a cor das unhas. Desiste.

Amar vem também na forma de espinho e cacto, vem na falta de ar do que se afoga em pleno mundo, medo de altura, susto, naquela sensação que você tem quando chega atrasado, naquela tristeza-sensação de estar sozinho num cômodo bem grandão e que, mesmo que gritasse, gritasse bem alto, ninguém ia nem bater na porta pra perguntar: "Vizinho? Tá bem?"

Vem no descompassado tremer da pele e dos ossos. Aquilo que dá...

Sabe quando você vai sozinho ao parque, vai andar um pouco, ver os pássaros, e então um casal passa ao seu lado? Eles dão as mãos, você vê a cena, vê e se sente um pouco doente, doente dos olhos?

E aí, então, por último, sono.

Amar parece com ter sono.

Uma sonolência incomum, como se se manter no modo "Stand by" o dia inteiro, usando as reservas de energia no mínimo, fosse te salvar de alguma coisa.

Amar parece com dormir.