[A Visitação da Loucura]
[Admito-me humano, profundamente humano!]
Às vezes, sou visitado pela loucura,
não aquela loucura lúcida de Erasmo, não...
loucura humana mesmo, nada elogiável...
De posse de mim, faz-me cometer
toda a sorte de desatinos —
exacerbo o vezo humano de fazer promessas,
e na manhã seguinte, nem me lembro delas;
envieso os sentidos pela turvação do olhar;
proclamo intenso amor a quem detesto;
odeio a quem sempre me foi indiferente;
demônios gritam doestos pela minha boca;
e se a libido agita o sangue e salta pelos olhos,
sinto desejo [louco?!] até por mulher feia,
depois, como lhe dizer que eu estava... louco?!
Nunca sei quando a louca visitação começa,
não há avisos, não há sinais que outros possam ler...
Ou há?! Não sei, eu não posso saber, falta-me luz!
Cada um tem um limiar que desconhece...
Ou jamais se perderia nos labirintos da loucura!
mas a tantos neste mundo visita a loucura,
que chego a pensar que a normalidade
não tem constantes pilares que a sustentem,
e carrega, em bolsos ocultos à vista,
as pedras que a loucura vai atirar!
Cuidemo-nos todos nós, os perigosos,
os loucos que não rasgam dinheiro!
[Penas do Desterro, 31 de dezembro de 2007]