A fome...
Meu corpo está sendo banhado pelo astro rei desta galáxia.
Seus raios luminosos lembram as maiores riquezas do homem – ouro e prata.
Sua beleza é indiscutível – sua energia indispensável.
Vejo-o desde que aqui cheguei – pena que para continuar sobre sua guarda,
temos que nos manter inteiros – corpo são, mente sã!
Por várias estações cultuei essa grande majestade.
Mas agora estou partindo – não sei pra onde.
Sei apenas que não queria esta viagem.
Há um vazio abaixo do meu peito que me consome.
Parece que as paredes do meu estomago devoram-se umas às outras.
Há uma mistura de nada com vazio. Por vezes peguei algumas coisas no lixo.
E algumas sobras de pessoas caridosas. Mas não foi o suficiente.
Meu corpo animal selvagem não me perdoou. Continuou a exigir o que lhe é de direito:
Comida!
Mas, meu espírito grita em meu interior que não sou selvagem:
Portanto, não posso matar!
Não posso roubar!
Sinto minhas tripas, num ato raivoso, sendo apertadas umas nas outras, como se fossem um pano de chão sendo torcido para a saída da água.
Estou definhando; junto vem à tristeza e o esquecimento.
Perdi toda a minha identidade – onde nasci, lembranças dos meus pais, esposa, filhos. Talvez eu nem os tenha tido...
O que fiz para perder o brilho do sol é de minha única responsabilidade.
A fome foi aumentando até o momento que perdi a noção do meu corpo – de minhas necessidades primárias.
Acho que os danos são irreparáveis – todos os meus sistemas estão debilitados.
Os tecidos neurológicos e outros secundários estão em guerra: comendo uns aos outros.
Minha última esperança é que sejamos energia indestrutível, assim quem sabe – quando toda a carcaça se for, minha viagem será leve e suave, Como uma brisa que sopra em nossa alma ao entardecer na beira do mar...