Tudo que poderia ser
Como queria saber!
Como queria o talento!
Como gostaria meus tempos
Para mais uma vez tentar
Tudo que não sei
Que não aprendi
Que não insisti
Que não me matei pra conseguir
Não fora o desleixo, e os colecionaria
Guardaria na memória as coisas de que desisti
Não que me façam falta
Assim...
Indispensavelmente...
...Mas... Seria muito bom!
Delicioso gostar de cálculos matemáticos
(Isso me faz falta)
Com que orgulho envergaria um jaleco de médico
Nem ouso me imaginar dentro de um
...É coisa para semi-deuses
(me refiro aos idealistas não aos mercantilistas)
Jogar minha cabeleira saudosa no espaço de um palco
Com meninas histéricas chorando gritando meu nome!
Sentar-me à mesa para discutir os destinos do país
Soltar meus termos jurídicos a quantos ouvissem
A voz da competência que alia a lei à sua essência
Em pareceres irreplicáveis
Transformar meu desejo atlético em dribles desconcertantes
Descrevendo trajetórias como um raio sinuoso antes do gol
Compor melodias, arranjos, sinfonias...
Conhecer todos os segredos de todos os instrumentos
E executá-los como no melhor dos sonhos
...Mas não...
Entre tantas possibilidades nenhuma me foi bafejada
Seja pela disposição, talento ou sorte.
Nem mesmo a capacidade de apreciá-las na plenitude
Me foi concedida, pela absoluta limitação... Cerebral...
Fiquei preso.
Refém de minha mediocridade.
Sitiado por algo que, confortavelmente, prefiro chamar de acaso
Estou do lado de cá.
Do lado dos que se consolam.
...É mais uma das razões pelas quais acredito em Deus
Há sim uma dimensão mais plena...
...É a única esperança.