Do sucesso
A medida de sucesso de todo homem é a sucessão de fracasso acometida em sua vida. Vemos as cicatrizes das emoções por uma adaga invisível, que, por intermédio do acaso, quase assassina sua esperança. O homem mais vantajoso é aquele que dança a lâmina na sutileza do vento. Meço a bravura dos sujeitos quando na rua caminho fitando a fisionomia do cansaço; há vitória apenas no cansaço: o semblante qual mais sofre denuncia a minha imediata admiração.
São homens que nada tem a perder, o olhar semicerrado como se a ameaça caminhasse na sombra. O rosto muitas vezes suado, a mente apenas focada em chegar em casa, e deitar-se para não mais acordar. Possivelmente a imaginação deles alarma por um funesto pensamento: o de não esperar coisa boa; talvez esperar coisa alguma. Quando se é admirável, as coisas boas raramente vêm.
O instinto de sobrevivência deles é mais admirável que a burguesia, porque gastam a vida na insistência luxuosa em viver. A resiliência em viver é mais tenaz que as montanhas, o voo cego de um homem fracassado é mais admirável que os pássaros que sabem a que ninho chegar.