Dialética negativa

Seres de luz, abençoe-me desta vida pacata, porque sozinho vejo-me mergulhado nos orbes das estrelas. Há escuridão em torno dos meus princípios. O sol nasce como um dia de cada vez, esquentando a minha pele morta. Os rochedos continuam petrificados no mar, os ricos perpetuam seus materialismos, os passos dos homens marcham no centro da cidade, os pássaros piam em busca dos bandos. Eu, monótono ser de cruzes pesadas, mergulho sob a treva do escasso sentimento de culpa, chamando o lume, invocando o lume da benevolência do céu azul! Sinto os pés atrofiados por andar em circuitos de problemas mundanos, sem jamais solucionar o enredo do mundo particular. Ai de mim! Ai de mim voar junto a podridão dos urubus! Caçar cadáveres como quem caça diamantes; pelo contrário, caço esmolas como um sem-teto: peço a seres de luz a dar-me vislumbres de uma esperança a mais.

Quem diria, a ironia, imperatriz de todas as ironias, demonstra na prática o auge da minha vida: vivo a intensidade dos acontecimentos, mas negativamente. Sou tudo o que quero, mas no reverso das coisas boas. É como banhar-me de lama para se aliviar da sensação da sujeira, é como sorrir na crueldade da angústia, ser grato ao universo o desdenhando rotineiramente, ser são enquanto sou violado no meu hospício mental.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 06/01/2024
Código do texto: T7970422
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