A Dança Não Dançada
Eu sei que choras.
Eu tentei convencer-te do quanto a vida pode ser verdadeiramente bela, quando se sabe para onde olhar. Eu tentei convencer-te de que as lágrimas são, afinal, breves, e que mesmo nas piores circunstâncias ainda era possível sorrir.
Minha querida a quem escrevo, eu sei que choras, dentro e fora. Silenciosa, diante da vida que se esvai debaixo dos teus olhos.
Eu ainda me lembro daquela dança não dançada, guardada na imaginação para o momento mais pleno, onde eu ainda vejo tua face maquiada pelas luzes amarelas da casa, o teu corpo bem vestido e brilhante balançando, contrapondo-se aos prédios iluminados da cidade. O teu reflexo aceso na porcelana branca da sala de estar.
Eu veria o teu olhar render-se à maravilha do presente, acompanhado de um sorriso tímido e surpreso. Pois é... eu já quis ver-te assim, desfrutando dos sentidos infinitos da vida.
Você decidiu, e não sabia. Você nunca soube da ficha apontada para baixo, prestes a cair. Tudo bem, ninguém nunca sabe...
E hoje em teu interior já se revelaram verdades antes jamais vistas, que ultrapassam idealizações, comparações e aparências.
Aprendera com a dor. Hoje sabes que o amor não arde como chama no peito, que amar é uma simples decisão de estar, e resistir. Por isso é pra poucos.
Querida [toda doce], a quem escrevo...
Eu sei que choras.