O Mito da Grande Pérola ...

Houve um dia, um dia de crepusculares tempestades, uma angustiante lamúria a desvelar mistérios soprou as trevas da indiferença através dos vales, das flores nuas e do marulhar das ervas imemoriais; o céu abriu-se como um olhar de plumas de pavão, abandonado desde o firmamento a uma antiga promessa de lágrimas.

Mas não se ouviam ainda os filhos da noite uivante, nem os rumores mortais, nem o cântico dos suicidas ou as lamentações do profeta temeroso, o abismo era noite dos homens, tudo o que havia era o silêncio.

  Foi quando um deus de íris cadentes quedou-se atraído pelo desconhecido brilho vindo das águas profundas e perdendo-se assim nos horizontes da terra desabitada, chorou; então, em luto apaixonado e rompendo o eterno silêncio de suas solidões imortais as filhas da alva rogaram ao abismo, o possuidor do "trovão vermelho":

"Dá-nos a pérola primordial que luze pálida na escuridão de suas águas para que perseguindo-na às margens do infinito o deus caído tome de volta o caminho que conduz à vida!"

Como nem toda a fúria estrelada dos clamores das filhas da alva alinhada ao frágil suspiro das flores puderam tocar a noite, o abismo conservou-se: um perpétuo imperturbável; dele ( a quem tudo devora ) nenhuma existência jamais ousara aproximar-se, tão ameaçadoras as sombras de sua treva.

E assim o tempo soou, uma vez mais, descontínuo...

É dito que uma única estrela ousara aproximar-se do abismo, e que em um congelante abraço apressara seus raios em direção ao mar: são eles a grinalda de louros que cingem hoje a lua, a pérola primordial.

Foi por isso que, os deuses, cuidando temer a morte iminente velada nos anseios do tempo esconderam-se nos rincões do universo: o silêncio fora afrontado pelos mortais, filhos do Sol, deste por quem as filhas da alva traçam nos céus sua senda de eternas vigílias.

Christopher Bennett
Enviado por Christopher Bennett em 28/12/2023
Reeditado em 01/05/2024
Código do texto: T7963498
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