Literatura sombria
Gosto dos livros sombrios porque soldam a experiência humana ao prostíbulo do existir. É uma curiosidade lúgubre da literatura, porque permite-nos a satisfação em conhecer roteiros não nossos, porém tão íntimos, uma covardia cômoda eu diria. O tormento dos romances grita entre as palavras o que mais é real entre nós. A redoma das tragédias nas histórias macabras me excita mais que a futilidade do sexo. Estar presente entre gritos da loucura dum luto recente faz-me atento às nuances de perder alguém, ante mesmo da perda; a lágrima do outro transcorrida entre seus lábios simpatiza-me a uma dor particular.
Sadismo consciente? Não diria empatia, mas contentamento aos açoites de outrem. Seria o leitor de dramas um lascivo do cotidiano triste? Vemos os jornais e a monotonia das páginas naturalmente escarnecendo entre as nossas almas o conformismo. Todavia, quando aberto o capítulo da traição do bom moço; da facada do maníaco sobre a ninfa; o acidente horripilante entre pais de família, por exemplo, nossa atenção é focada no instante da insanidade do personagem e a resolução do conflito. O drama literário é nada mais que masoquismo e a estética do rotineiro violento, maltratando-nos sangue por sangue.