Lamúrias de um nordestino
No sertão, onde o caboclo pé descalço vive a penar,
Sofre os piores pesadelos em sua solidão,
Caminha descalço, amassando a terra em que a sujeira se apega aos vãos dos dedos.
A noite, no leito de palha, a lamparina fumega em sua escuridão, com a fumaça do pavio encharcado de querosene.
São noites mal dormidas, o sertanejo sonha acordado, que um dia tudo pode mudar.
Os pés marcados pela crosta do pé enrugado afundam na terra vil, em que a lua serpenteia na fresta de luz do crepúsculo nordestino.
Seus pensamentos fluem como um rio em cascatas, ao som bizarro dos ventos uivantes nos desfiladeiros da encosta... Será que existe a esperança? Se alguém souber onde ela está, me avise, quero encontrá-la para perguntar por que ela não anda por aqui.
Oh, lamparina que fumega, não se apague,
Deixe a noite abrir dimensões não pensadas,
Leve-me a devaneios onde a fantasia não me trague,
Me deixe não se entristeça, não apague o pavio que fumega da minha alma.