*Impróprio

Ela tinha um termômetro quebrado para amizades

Ela sempre esperava demais de quem lhe dava pouco

e dava de menos pra quem merecia mais

Ela nunca achou que tinha com quem contar

E por isso não fazia conta

Ela gostava de dividir silêncios,

de falar sobre coisas bobas que fazem sorrir

Ela sempre achava que pertencia a um minúsculo país estelar

onde seus habitantes falavam um código há muito extinto

As crianças se comunicavam muito bem nesse código,

mas ao crescerem, esqueciam sua origem de poeira cintilante

Ela nunca incomodava, em troca, nunca lhe bateram á porta

Ela era sempre a última a saber, tamanha era sua insignificância

Ela nunca confidenciou segredos, assim deixariam de ser segredos

Nas conversas, parecia que todos tinham algo mais extraordinário

ou catastrófico a dizer

Ela tinha mesmo um desacerto descabido sobre como se dar

Ela achava tão bonito os "amigos pra sempre", mas ela não cabia,

não tinha medidas, a medida certa

Os amigos que lhe restavam, estavam presos nos livros,

ávidos para se libertarem sob o encanto da sua vertiginosa imaginação!