Além

Nada como o fútil prazer de emergir sentimentos nobres, como tal faço agora. Os dedos entre as têmporas massageando as ideias, similar ao balanço das águas do mar provocando agitação. Navegando de olhos fechados numa maré tempestuosa, passando a um inevitável afogamento das causas perdidas. Caindo de costas aos rochedos das imagens, sonhando entre miragens do céu pintado a sangue. Vejo a decrepitude da matéria velha, analisando as células mortas de uma filosofia antiga.

Forço uma natureza que não possuo, mas avisto no luminar da imaginação novas possibilidades. Um Eu de medidas ageométricas, sem vontade própria, mas de objetividade perpétua, criatura de uma egrégora única possuidora dos oceanos solitários. Eu quero alguém para me relacionar que seja eu e além de mim, que não me abandone nos meus dias de misericórdia, mesmo oferecendo a dissimulação como todos fizeram. Este alguém deve ser uma extensão das calamidades do todo, mas simultaneamente a sombra dos meus passos. Um amor-amigo perfeito, analista dos mistérios mais fulcrais do meu coração. Distante da aviltante forma dos humanos caídos: uma experiência para culminar a realidade numa cabal conclusão — a da impávida sensação de sentir.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 21/12/2023
Código do texto: T7959044
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