Da certeza do fim (ou do que são feitas as lembranças)
Há momentos na vida que é preciso esperar. É preciso parar, sentar e refletir.
Hoje conclui esse tempo. Conclui depois de uma pausa para refletir e concluir que já não tem mais sentido. Não tem sentido insistir numa possibilidade cada vez mais remota. Conclui ser desnecessário tentar entender algo que requer apenas aceitar. E então, hoje eu entendi. Confesso que precisei de um tempo para entender suas conjecturas, demorei para entender suas incertezas, suas oscilações e suas vacilações. Não quero, com isso, dizer que agiste errado, nem, tão pouco, que fui vítima numa relação gangorra. Sei que tenho parcelas de responsabilidades; não nego. Por favor, não entenda essas palavras como se fossem as pedras que se atiram na tentativa de causar ferimentos. Não teria essa coragem e, certamente, trairia o meu elementar princípio de que causar sofrimento a alguém é tão abjeto quanto mata -lo. E ademais, também agiria em desacordo com o que sempre disse: estar a seu lado me fez melhor e mais feliz.
Mas hoje, penso ter havido algo que, de certa maneira eu já sabia: não temos mais nada em comum, não temos obrigações mútuas, não temos reciprocidade ética: vivemos o que fomos capazes de viver, vivemos conforme nossos impulsos e , alegremente, vibramos quando e enquanto, estávamos apaixonados. Vivemos nossas verdades, corremos nossos riscos; fizemos loucuras que só os apaixonados são capazes. E, então, houve o esgotamento. Houve o momento da ruptura, da necessidade da distância. Houve a premente necessidade de nos darmos a dádiva e necessária prática da distância como mecanismo de se evitar desnecessárias mágoas. É importante romper com riso. É importante parar com lembranças boas e que nos alimentarão com nossas saudades e, quem sabe, até, conjecturar, lá no íntimo, no silêncio da sala só iluminada com a luz da TV e, assim, sem motivo aparente, nos vir à mente a lembrança do que vivemos. É bom saber, ou ao menos, pensar saber, que o que se viveu, em certa medida, contribuiu para nosso crescimento, para nosso desenvolvimento na certeza que nada do que se vive, absolutamente nada, passa sem deixar algum sinal. Nós somos o resultado do que vivemos e vivenciamos, não há escapatória; não. E então, mesmo que envelhecemos, e envelhecemos, ficarão nas nossas memórias, nas nossas lembranças, momentos vividos que só o tempo foi testemunha. E será nessa hora, e talvez a mais saborosa, que teremos flashes desses momentos; será o momento da nostalgia, da saudade.
Hoje acordei com essa certeza. Com a certeza de que é o fim de uma jornada, de uma caminhada que se iniciou com riso e muita cumplicidade, e foi bom! Foi bom ter vivenciado cada momento, foi bom ter dividido o espaço, os sonhos, foi bom saber que você existia. Que você habitava o mesmo espaço que eu habitava, que você respirava o mesmo ar e brincava na mesma chuva.
É hora de parar. É hora de soltar as mãos. É a hora de deixar a vida seguir caminho.