MEUS AMORES DA INTERNET

Durante todos esses anos que eu frequento as redes sociais, conheci muitas mulheres e algumas especiais. Uma delas foi Amélia no site o Recanto das Letras.

Amélia possuía um talento fantástico para escrever, se alguma grande editora saísse do padrão das ideologias e dos apadrinhamentos, e dessem uma chance a Amélia, com certeza seria uma das maiores escritoras do Brasil. Ela tinha um talento imenso, uma criatividade sem fim que ia do mais fino humor sofisticado ao mais debochado, passando pelo drama mais emocionante. Em seus contos ela fazia o leitor rir e chorar com uma facilidade tão grande, encontrada somente entre os grandes escritores da literatura.

Comecei a acompanhar suas publicações no Recanto e ficava maravilhado com seu extraordinário talento. Em função dos comentários que eu fazia em sua página, um dia ela me notou e acabamos nos tornando grandes amigos, um relacionamento virtual que durou pelo menos uns dois anos, até um dia que ela simplesmente desapareceu sem deixar rastro, encerrando sua página no site.

Amélia era tão criativa que eu nunca soube se ela era mesmo o que dizia ser, a sua idade, por exemplo, eu nunca perguntei, percebia que era um tema do qual não gostava de falar, mas poderia ser 30, 40 ou 60 anos, a cada momento ela se portava de um jeito, era impossível identificar. A foto na sua página era um desenho de uma dona de casa com um avental e uma vassoura na mão, uma alusão ao seu nome, Amélia a mulher de verdade.

Não sei se a cidade que ela dizia morar no interior de São Paulo, era lá mesmo que morava.

Amélia dizia que era costureira da alta sociedade da sua cidade, e na frente do seu ateliê de costura tinha um armarinho, esses lugares que vendem linhas, botões, agulhas, alguns tecidos.

Contou que trabalhava com uma ajudante que além de ser sua auxiliar na atividade profissional era sua melhor amiga e confidente. Segundo ela, as duas conheciam todas as fofocas da cidade e falavam da vida de todo mundo o dia inteiro com as clientes que frequentavam sua loja. Penso que seu ateliê de costura, deveria ser um quartel-general das fofocas da cidade. Ela me dizia que falava de todo mundo mesmo, porque todo mundo falava dela. rsrsrsrs

Eu imagino a Amélia e sua companheira de trabalho, assim como Dom Quixote e Sancho Pança, seu fiel escudeiro. As duas contra todos da cidade no duelo das fofocas.

O único fato da sua vida que eu não tenho dúvidas é que era amante de um motorista de caminhão casado do Rio Grande do Sul, e quando fazia viagens para São Paulo ou mais ao norte do país passava pela cidade dela, quando então viviam um romance de uns 3, 4 dias. Um gaúcho lindo e maravilhoso como ela definia, e o grande amor da sua vida.

Na época quando conversamos virtualmente não havia as mensagens, what saaps, conversávamos por e-mails, eu mandava e ela respondia em seguida, se não me falha a memória tinha um tal de skype, mas como a internet era muito lenta era horrível conversar por esse aplicativo, e assim por incrível que pareça, através dos e-mails ficávamos horas conversando.

Uma noite ela estava muito triste, bebendo vinho da marca Chapinha como ela dizia, de saudades do seu gaúcho que fazia algum tempo que não vinha para esses lados. Eu não sabia o que fazer para aliviá-la da angústia que demonstrava naquela noite.

Então disse a ela.

Amélia vou levá-la a um Show do Cauby Peixoto, você conhece?

Claro que eu conheço, mas não gosto dele.

Esse show é diferente, ele canta somente músicas do Roberto e Erasmo, e como você conhece as músicas, vai acabar gostando do show.

O ano era 2010, em 2009 o Cauby realmente fez um Show no Sesc da Vila Mariana em São Paulo, apesar de na época eu morar no Paraná estava em São Paulo nesse dia e fui assistir o Show, e foi belíssimo.

Depois fiquei sabendo que uma parte do show foi parar no Youtube, eu selecionei os links de algumas canções, e montei uma sequência em que eu escrevia um texto relativamente curto sobre o tema de uma música e colocava o link do Cauby cantando a referida música

Antes fiz todo um mise en scène para ela saber como seria o show. E comecei a passar os e-mails em sequência, enviava um, cronometrava o tempo, os minutos que ela demoraria para ler o pequeno texto e assistir o vídeo, e logo em seguida mandava outro, dando a impressão de uma sequência do show.

Ela ficou encantada, deu tudo certo e no final adorou ter assistido ao show do Cauby comigo de uma forma inusitada. Tenho certeza que naquela noite consegui fazer com que ela passasse alguns momentos sem sentir saudades do seu gaúcho.

Como disse anteriormente, a Amélia desapareceu, fechou sua página no site e sumiu. Foi quando eu descobri, apesar de todas as dificuldades tecnológicas da época, o quanto gostava da sua amizade e da convivência virtual que mantínhamos normalmente a noite enquanto ela tomava seu vinho.

Sinto falta das nossas conversas até hoje, apesar de não ter certeza se tudo que ela me contava sobre sua vida era verdade ou pura ficção, na qual era mestre.

Amélia era uma pessoa inteligentíssima, tinha uma presença de espírito impressionante, muito engraçada, conversar com ela era certeza de muito divertimento, além de ser uma pessoa muito preocupada com os amigos, carinhosa, meiga, inesquecível.

A onde você estiver querida Amélia, esteja com Deus.

Um dia tentei escrever um texto de humor em sua homenagem. Publico em seguida o texto e os comentários que ela fez na época entre o de outros leitores, permanecem até hoje registrados na minha escrivaninha no Recanto das Letras.

“EU NÃO SOU SACI”

Duda Menfer
Enviado por Duda Menfer em 19/12/2023
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