Desvio
Minha vida é um eterno desviar dos enredos do viver. Acontecimentos são tratores de braços que me puxam ao calvário, mas sem antes jogar destroços sobre os olhos. Sou um nômade numa rua sem referência, cambaleando numa madrugada sem estrelas, na presença de carros, caminhões, motocicletas e aviões a metros de distância. Olho para todos os lados e o desespero me atropela, range sua engrenagem no óleo quente derramado, secado na própria íris lubrificada por aceitação.
O foco da vida é não pensar nela, porque quando penso, as buzinas das conclusões me irritam. As pessoas aceleram, saem da faixa de pedestre antes da hora. Morrem aos 16 anos vítima da intolerância do tempo. Há também ações fora da curva, multadas por excesso de verborragia poética, caladas pelo paredão da realidade. A vida é um acidente por excelência, mas o nosso maior dilema é limpar as cicatrizes de sangue, aguardando a muralha da incerteza nos soterrar novamente.