o rumo do rio
Quanta areia, eia, êo;
barui de chuva caindo,
levando areia pro rio,
Antes lindo e caudaloso;
Hoje deixa nois desgostoso;
Não dá mais conta,
De carregar ele mesmo;
De quem é a culpa meu senhor;
Uns dizem ser dos homens, outros dizem é do progresso;
Outros dizem é assim mesmo, outro é do governo;
Mas não me conformo,
Com meu rio não faça isso,
Que destruição;
Lembro que quando menino buxudo;
Chamava Zé Bento pra no rio pescar;
Do meu Parnaíba, trazia crumatás, traíras, mandis;
cascudo;
tinha até boto;
Hoje mal dá uma crumatá;
Ê mameleiro pendente,
Ê imbuzeiro virado, êô, êa,
É pasmaceira êê, é pasmaceira, eia,
pasmaceira que vem que vai;
É areia que sufoca,
meu Parnaíba, êê, meu Parnaíba eia;
É dejeto, é lixo, enchedeira devorando,
É mameleiro pendente, é imbuzeiro virado;
Areia sufocando meu rio,
Que desce do Sul do meu Piauí, até o grande mar;
E como o Nilo, lá pras banda do Egito, ouvi falar, deságua num delta,
Eu já disse a Quirininho que não fosse tomar banho no rio que tanto amo e ele perguntou "por que";
Disse-lhe:o rio não ta prá banho, se entrar pega pereba, dá gastura no corpo;
O meu Parnaíba está seco, seco, e lodoso;
Antes caudaloso,
Hoje dá gastura de ver;
Está prestes a ficar deserto no deserto;
E sem querer lhe assustar;
Acho que o delta pode acabar;
Pois meu Parnaíba,
não tem força mais pra desaguar,
com tanta força, até seus enormes braços alcançarem o oceano;
Meu Parnaíba, êo,
Meu Parnaíba, êa;··.