Detalhes de outono

A tarde parecia triste, como que a contar cada folha que subitamente desprendia-se dos caules. Depois dessas vertigens se juntavam a confeccionar um tapete de cores desbotadas entre alaranjados e amarelados sobre o chão dos jardins.

O lago refletia o céu e em leves ondulações, quando a brisa parecia tentar mergulhar, fazia trêmulas as nuvens desenhadas na superfície.

Uma ponte de tábua já com partes carcomidas pela ação do tempo parecia contar de sua velhice na mais triste solidão, estendida de uma margem a outra há décadas.

Por todas as saudades sentidas, em tempos de tanta tecnologia, até mesmo a figura de um carteiro solitário chamava a atenção de um casal de velhinhos sentados no banco próximo a um canteiro de lírios. O carteiro não parecia feliz com as correspondências sem cartas de amor.

A nostalgia trazia uma paleta de cores nas mãos, mas com uma tela na mente já pintada somente em preto e branco.

E nas réstias da tarde, toda noite se dependura para encher de estrelas esses varais invisíveis do universo.

E o casal de velhinhos se levanta e seguem de mãos dadas pelas ruas, como que a segurarem primaveras no enlace de seus dedos.

Takinho
Enviado por Takinho em 11/12/2023
Reeditado em 29/12/2023
Código do texto: T7951647
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