DESCOMPOSIÇÃO

DESCOMPOSIÇÃO

Me decomponho e nisso silenciosamente me devoram

Decomposição silenciosa orquestração de pidonhos

Tantos minúsculos seres afoitos me desarvoram

Moram em minha derme de graça como eu nos meus sonhos...

O que é a vida??? afinal!!!

Se não sei nem se vou preencher

A roupa esvoaçante que está pendurada no varal

E quiça ainda choraminga antecipadamente

Sentindo minha falta lágrimas sabonosas

No prendedor que não sentirá sequer minha dor....

Ela se foi e ceifou-se a vida dela

E seus cabelos como corpos n'agua

Agarrados na bóia amarela

Assim estão emaranhados em sua escova da Wella

E sua cadela que também partira

Seus pelos ainda estão aljofres

Colados no sabonete de enxofre

Onde tomava banho pra tirar sua pira

E o amor é tão grande sem findar-se numa reta

E pena que seres tão pequenos

Não usem-no da maneira correta

Está em todo lugar

Como o ar

Não podemos pega-lo

Só senti-lo e só estica

E quanto mais repartido

Tanto maior fica..

A única perspectiva da vida em sua lente

É a morte ela espera todos seus planos

Se desmoronarem pacientemente...lentamente!

Vida e morte gestação

Principio fim sem escrutínio

E nada é para sempre do óvulo a evolução

tudo fica pra trás uvas morrem viram vinho???

A terra é tão somente

Uma porta giratória....

Pedras e plantas ficam

Dinheiro joias ouro noves fora

A unica coisa que não fica

São aqueles que pensam

Que nunca vão embora...

A morte não é infiel

Ela simplesmente trai a todos

É este o seu papel...

Tudo se desincorpora

Certeza mesmo não tem hora

Só na gravidez

Cuja gravidade um outro ser se desfez...

O que ela mais gostava de comer de lambideira

Está amalgamado no congelador

Trancafiado no ártico da geladeira

E agora ela é alimento fresco do verme roedor

E o que somos????

E quanta falta de perdão

E quanto egoísmo???

Quanto paradoxismo..

A terra é tão somente

Uma porta giratória...

Não adianta falar, gritar, espenear como mula

A gente não aprende com a perda

Que vão sentir da gente que é quase nula

Vamos aprender que as lágrimas de nada servem

Morrem de inanição no caminho

E que as palavras também se perdem

Até os animais de estimação

Quais panos de chão

Vão se esfarrapando

Só Deus...nos absolve

Algo nos move

Mais quem nos remove???

Anjo da morte?? Que estranho requiem

Chega esta hora nos deparamos com quem?

Porque nos abandonastes?

E a todos que aqui aportam com choro e alarde

Serão abandonados....mais cedo ou mais tarde...

UM CICLO VICIOSO COM FIM E SEM FINAL...

Cemitério, colméia de ossos

Finados, tantas murchas flores e remorsos....

O que é a vida se a proxima parada é no terminal?

A vida é um laboratório de extermínio

E pra que então existimos????

Se não podemos provar de onde viemos

E nem tampouco os símios....

Pra provar que a morte é iminente?

Pra provar que há prova de vida entre crentes

Quando tudo ao abrir dos olhos é apodrecimento

Quando tudo é esquecimento????

Por trás de nossas pálpebras

Não há ciencia

Nem algebras

Nem nada de consorte

Só as algemas da morte....?

E o que é o fim?

É somente até a idade que nos deixa pra trás?

E os que são ceifados antes

Quais seres vencidos antes de sua validade...???

Não tem algo que não podemos compreender

O que nos reserva do outro lado do rio

Propositadamente até ser tempo de calar no vale do silício

Mais há propositadamente compreensão

Praquilo que pensamos compreender...silencio!

Por isso nos despedimos de quem

Se foi pra algum lugar que iremos

Sem conhecer sequer de onde viemos....

E só existimos se estamos pro espelho defronte

Pra onde vamos...se é que vamos

Pra este mar de não-sei-onde e de qual fonte?

E o pior de tudo que nos propomos

É não poder acordar pra ida deste bonde

Pra viver na realidade dos meus sonhos

É como tomar um banho de água quente

E não achar a porta de saída do box

Porque esta tudo cheio e exsudado de vapor

E só o que consigo ver esmaecidas

São as letras que escrevi com meus dedos

Antes de entrar no banho...escritas

Adeus!!!! E suam lágrimas vencidas

Me decomponho músculo-esquelética decomposição

Tantos seres mínusculos afoitos me levam pra morar

Em suas kitnets moradia do tamanho de um grão

Coercitivamente devoram meu peito

Eis que agora sou um deles sem o ar rarefeito...

A nada me oponho nem a grama nem ao boi

Me descomponho da vida sem um grama deixar

Eis que em filigrana absolutamente tudo aquilo

Que é já se foi...pra outro lugar

"Ilumina meus olhos

Para que eu não adormeça na morte" (Salmo13,3)

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 10/12/2023
Código do texto: T7951316
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.