Cicatrizes
Difícil admitir… Mas é fato que minhas dores ainda norteiam minhas escolhas. São as feridas que guiam os novos rumos. O caminho da cura é longo, árduo e exaustivo. É preciso esgotar-se, rasgar-se inteiro. E, talvez, a cura nem seja o objetivo mais justo. Sobretudo, porém, aprender a lidar com as cicatrizes. Não basta limpar e estancar os cortes profundos. Muito mais se faz preciso compreender o valor de cada marca deixada em mim. Da cicatriz a lembrar a existência pregressa daquela ferida vem a força para reconstruir. Não deixar-se ferir é ainda o maior desafio. E de todo esse caos o que compreendo agora é que sou fruto de todo esse processo. Trabalho com afinco na superfície, mas preciso aceitar que a tempestade se forma lá dentro, existe um céu cinza chumbo, denso que vai desabar cedo ou tarde. E tudo será novamente retirado do lugar, o vento forte irá soprar. E eu vou precisar renascer mais uma vez.
Hoje estou mais forte, tenho uma dose maior de coragem, e a cada susto eu me lembro dos caminhos que percorri até aqui. Tropeço um pouco e sigo adiante. Só não posso fingir que o quarto escuro não existe. Há aquele lugar onde não chega a luz, mas é preciso abrir as janelas.
Algumas feridas mesmo fechadas ainda são a causa de muitas coisas sombrias. Outras parecem cicatrizadas, mas sangram repentinamente. E, nessas horas em que o sangue brota, em que a luz atravessa as janelas, eu preciso despertar. Acolher todas as minhas escolhas, boas e más.
Então eu respiro o meu melhor, abraço o mundo lindo que tenho construído, danço diante da sagrada fogueira da cura e vou em frente. Só por hoje, um passo de cada vez. Sem pressa. Sem buscar atalhos.
Sou uma pessoa ferida. Muito permiti que me machucassem, mas estou aprendendo a cuidar de mim. E isso é tudo que consigo por enquanto.
*Si*