Eu e a mosca...
Eu e a Mosca...
... Uma noite de insônia...
Em uma noite de insônia, eu estava em minha escrivaninha a pensar, e tentando organizar meus pensamentos –, não conseguia me concentrar para escrever algo, ou sair daquela maresia de inércia e pasmaceira... não havia o menor sinal de que, conseguisse vir um pensamento ou inspiração, pelo menos para conseguir escrever algum fragmento de poema, ou algo parecido.
Todos da casa já dormiam...
Quando, à minha frente, na escrivaninha, surgiu uma mosca; pousada à beira do meu copo com água. A princípio tive uma ponta de nojo, logo depois comecei a pensar: será que essa mosca não é a minha amada, transfigurada em mosca, que veio me sondar... me beijar: ou somente me apreciar naquele meu momento de solidão? E, aquela mosca, que insistia em me rodear, ficar ali presente, perto de mim?
Tentei a espantar por diversas vezes, sem sucesso.
E... fiquei eu, ali, parado, diante daquela mosca; atraído, absorvido, inerte... olhando-a sem saber ou entender por que a tal mosca estava a me acompanhar. Estaria ela, me pajeando, me vigiando, observando? Me cuidando, ou me protegendo?
... E a mosca continuou lá... inabalável, sem arredar pé de perto de mim.
E eu a me perguntar: quem é você mosca?
O que quer de mim?
Por que você não me deixa em paz?
... nem preciso dizer que (ela) a mosca não me respondeu nada...
Logo... com razão; se eu também não perguntei nada -, pelo menos em voz alta; para ela - a nossa mosca...
Ou: a minha mosca.
Mas... se ela era a minha amada, ali presente, porque não se manifestou: ou não se materializou para mim? Fiquei pensando: e se ela se transfigurar em uma linda mulher e quiser me amar aqui mesmo nessa escrivaninha? Me beijar?
Quase fiquei excitado, me contive... a custo.
Lembrei que minha amada estava ausente.... longe, distante...
Comecei a me distrair... distrair...
Quando recobrei os sentidos -, dei por mim que não havia mais mosca... ou, aquela tal mosca. Olhei para a escrivaninha, tudo em volta e não a vi mais. Ela foi embora. Procurei, procurei e não a vi na mesa, ou ali por perto. Nada da tal mosca. Comecei a sentir um vazio... triste...
Cadê a mosca?...
Olhei para o copo procurando a mosca. Tive pena de não a ver mais. Fiquei triste...
Era uma noite de domingo de carnaval...
Lá fora, ao longe: ouvia-se o som do carnaval, que vinha das ruas ou das tvs da vizinhança...
O carnaval e a mosca?
E... eu?
Nem carnaval, nem mosca...
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Campo Grande MS, 29/09/2023. Arnaldo Leodegário Pereira.