Apenas uma Noite
Naquela noite, a cidade exalava uma aura misteriosa, como se o próprio universo conspirasse a favor de um encontro inesperado.
Foi então que você, com olhos inebriantes, persuadiu-me a acreditar em algo além da razão, algo que transcenderia os limites do tempo em apenas uma noite.
Confesso, inicialmente te vi como uma alma audaciosa, mergulhada em um enredo imprevisível, uma narrativa que desafiava a lógica e se desenrolava na sinuosidade das nossas emoções entrelaçadas.
Ao aceitar tua proposta, mergulhei naquela boate, onde os sons sedutores competiam com o murmúrio das ondas próximas ao cais. Sentado no balcão, meu olhar vagueava entre os pares que, como nós, buscavam na noite algo além do simples êxtase físico. Em cada abraço, em cada riso furtivo, havia uma história, um vislumbre de uma felicidade fugaz que tanto almejamos.
Foi nesse instante que percebi: éramos duas almas solitárias, desejosas de encontrar um refúgio no calor fugaz de um encontro casual.
Mas o destino, irônico como sempre, traçou para nós um caminho surpreendente, onde a união de nossas solidões seria a epifania de uma conexão profunda.
Nos teus gestos, havia uma dança peculiar, um convite silencioso para dançar na melodia dos nossos corações aflitos. No perfume do teu cabelo, encontrei o aroma da saudade, uma nostalgia premente de um amor que nunca vivemos.
E então, entre olhares que falavam mais que palavras e toques que ecoavam desejos reprimidos, descobrimos uma cumplicidade além do efêmero, uma ligação tão intensa que transcendia as fronteiras do tempo e do espaço.
Mas a madrugada aproximava-se, trazendo consigo a cruel realidade do adeus iminente. Nossos corpos entrelaçados tornaram-se testemunhas de um romance fugaz, como estrelas cadentes que cruzam o céu noturno, desaparecendo na vastidão do universo.
E ali, naquele momento efêmero, entre suspiros entrecortados e palavras não ditas, compreendi que o amor pode ser uma promessa não cumprida, uma ilusão que se desfaz ao romper da aurora.
Partimos, cada um para seu próprio destino, carregando o peso daquela noite que nos transformou e dilacerou.
Restou a lembrança, um eco melancólico daquilo que poderíamos ter sido, mas que o destino, impiedoso, separou antes mesmo de unir.
Assim, somos dois estranhos, unidos pela lembrança de uma noite intensa, marcada pela efemeridade do amor não vivido, um capítulo solitário e doloroso em nossas histórias individuais, um lamento eterno nas páginas do tempo.