ADOLESCER

Ninguém esquece a própria adolescência.

Todos os dias ela apertará a razão do idoso

Ninguém jamais esquece a própria adolescência.

Poderíamos pensar em outro projeto de vida,

se pudéssemos retornar ao início da adolescência

ou se dela pudéssemos esquecer?

Mas ninguém esquece essa estrada de tijolos amarelos.

Às vezes, no fim, a estrada faz uma curva

e voltamos pelo mesmo trajeto

o mal de Alzheimer

que prontamente passa pelos mesmos lugares

e grita na esperança

por outra adolescência

que não, nunca mudará seus tijolos.

Hoje pensei em minha adolescência muitas vezes,

até pensando em quem morreu

e ainda estava vivo naqueles dias.

Dias da adolescência,

dos mesmos pais, amigos

mulheres imaginárias

e caminhos que retornam,

sem poder retornar jamais.

Reencontro um amigo velho e antigo

e pergunto:

Você esqueceu tua adolescência?

Ele responde,

“Todos os dias eu me lembro!

O que podemos fazer?”

Talvez pensar em suas vítimas saudosas.

Ela gera vítimas saudosas todos os dias;

quando tu te deprimes

ou quando sonhas com o impossível.

Não esquecer a própria adolescência,

mesmo em sua forma de miséria,

tristeza, ruína, desgraças...

espalhadas nesse tempo

como a fumaça do cigarro em um pulmão

as outras idades, absolutamente,

somente tem graça,

se adolescermos para elas.