Sou filho de Maria
Sou filho de Maria
Que por horas a fio
Sol, chuva, noite e dia
Sentada à beira de um rio
Lavava, enxaguava e torcia
Em uma bacia, roupa de ganho por mixaria
Sou filho de Maria
Negra, forte, dura e determinada
Coração gigante que logo acalmava
O sofrimento alheio de quem lhe procurava
Com palavras, bênçãos e até a comida que não tinha
Sim, sou filho de Maria
Que veio ao mundo após promessa
Dos seus pais, que à Santa tanto pedia
Em prantos, uma menina sem pressa
Ao tempo Dele e sem romaria
Sou filho de Maria
Que chegou primeiro na família com os irmãos meninos
Comprometeu a saúde e fez deles homens como ninguém faria
E os cuidou até o último de seus dias
Maria, minha mãe e maior referência
Sempre foi assim, desde a pura inocência
Juntos em todos os momentos
A maioria das vezes distantes, mas entranhados em sentimentos
Espírito de luz que me renova a cada reverência
Como se não bastasse ser Maria
Também é Penha que o fogo se abranda e não lhe consome a lenha
Firme, enraizada e altiva, mas também avariada
Pelas dores e chagas que só nós, seus filhos, sabíamos como doíam
Na carne, não na alma que tudo suplantava
Pronta ao prenúncio de um novo dia
Sim, sou filho de Maria da Penha
Que não é lei, mas santa no nome e dadivosa como ninguém
Que Deus a cuide e ao seu lado mantenha
Assim seja por todo o sempre! Amém!
Sim, orgulhosamente filho de Maria
Em vida, exemplo de bondade, caridade e fraternidade
Sem receber talvez o que merecia
Dizia aos filhos que bastava (eles) o que tinha
Sim, sou genuinamente filho de Maria
Minha eterna luz e meu guia
De onde estás, és a ventania
A soprar a vela da minha embarcação
Quando fecho os olhos e sinto a sua mão
Pesada, firme e ao mesmo suave a me tocar o coração
Sim, sou filho de Maria
Mãe presente e companhia em todos os meus dias