Guarapari

Em determinado ano, meu grande amigo, Ricky, foi para os Estados Unidos. Na véspera, bebi muito e quase perdi o momento de sua partida. Nela, não chorei: troquei a dor da tristeza pelo desconforto de uma ressaca.

À tarde e naquele momento me conhecendo mais que eu, meu pai me chamou para ir a Guarapari "resolver alguma questão da firma no café da Dona Rosinha", lugar que quase nunca pegava aberto, mas que sempre prometia voltar.

Em algum momento da viagem, olhou no fundo dos meus olhos, como poucas vezes fazia pela timidez, e me aconselhou com voz acalentadora:

- Lucian, meu filho, você precisa aprender a perder...

E bastaram essas poucas palavras para que eu conseguisse colocar para fora todo aquele sentimento represado.

Desde então, Guarapari se tornara este local: frio e distante, em que eu pegava o carro e rodava, quando, por algum motivo, me sentia angustiado.

Por isso, nunca foi lugar de sossego, de parada, mas de remoer perdas, de passagem.

Recentemente, conversando com uma pessoa querida, ela dizia o quanto gostava daqui, por despertar boas recordações com o seu pai - também falecido.

No dia não consegui corresponder, já que estar aqui me angustiava.

Todavia, desde que meu pai se foi e que estou aprendendo a conviver com a perda de quem me ensinou a perder, pareço conseguir, enfim, ver sob uma nova forma a cidade.

É como se, agora, meu pai me aconselhasse:

- Lucian, meu filho, você precisa aprender a recomeçar...

Lucian Rodrigues
Enviado por Lucian Rodrigues em 17/11/2023
Código do texto: T7933833
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