Inexistência
É madrugada. Minha dor descansa, o silêncio decanta as contrariedades do dia que se foi, e logo será esquecido. O coração pulsa devagar, a cachaça vai chegando no meu sangue aos poucos.
Agora o silêncio envolve também meu pensamento. Penso em nada, logo, deixo de existir por alguns instantes.
Mais um gole de cachaça, que desce marcando caminho: boca, garganta, esôfago, estômago. Mais um instante sem pensamentos. Minha inexistência toma forma. Sou ninguém, sou nada. Um vácuo em plena vida.
Outro gole. Agora só o sabor me interessa. Só a utopia dos sonhos me interessa... E uma vontade incontrolável de novamente inexistir.