Invisível
Tenho a discrição necessária para ser opaco. Os meus passos tímidos são cordiais. Olhos crivados nas leis das ruas, atento a qualquer movimento dos lobos. Uivam com sobrancelhas espessas e melindrosas. A literatura da contemplação risca as pegadas, escrevo vivendo no limiar exaspero. Sinto-me uma sombra da morte, quando menos esperar, alguém me notará. A luz da manhã esplandece urubus ao vento; as carniças presenteiam-nos com odores terríveis. Estar avoado nesta terra é sinônimo de tragédia. Um lastro de tempo perdido é resultante da magia de estar vivo ou morto. Por hora, sou o anjo escuro dos dias comuns. Acima dos olhos carnívoros abro meu universo invisível a realidade soturna.