Sou Puta
Que eu sou puta, todo mundo sabe. É conhecimento empírico, difundido pelas ruas, esquinas, bares e qualquer outro lugar onde houver um homem ou mais.
É sim, eu sou uma puta, eu sei disso.
Me contaram uma vez, nem me lembro direito quando, mas eu sei a um tempão, mas não se engane, eu não vendo meu corpo nas ruas à noite.
Sou uma puta diferente, eu acho.
Vendo outras coisas minha, todo dia prostituo minhas horas pelo preço barato que minha mão de obra vale, para aqueles mais ricos que se dispõe a pagar o mínimo, e ofereço no precinho meus sonhos infantis de ser alguém na vida, enquanto me rebolo - e como rebolo bem - para manter as contas de casa paga.
Sou uma puta muito boa, e ninguém duvida disso.
Se não acredita, pergunte ao Seu João da vendinha, que mora lá na rua de casa desde que eu era uma menininha, um dos primeiros que me lembro a reconhecer meu potencial quando eu ainda era apenas um prodígio brincando na rua com os meninos:
– Essa daí brincando com macho, vai ser uma puta quando crescer!
Ele acertou em cheio como podem ver…
Grande homem ele era, que olhar!
Na época eu duvidei do meu potencial, até me ofendi acreditam?
Criança não sabe de nada não é mesmo?!
Mais homens de visão conseguiram ver meu potencial enquanto eu fui crescendo, e enfim fizeram que eu acreditasse.
Lutei contra um tempo, mas puta me tornei em horário comercial.
De segunda à sábado se tudo dá certo, e domingo vou à missa, pois sou puta e não herege. Rezo uma ou duas preces pra que não me falte quem me compre, e volto pra casa, no caminho passo por homens que me reconhecem e consigo os escutar dizendo:
– Uma roupa comprida dessa? Com certeza é uma putinha por baixo…
Agradeço a Deus feliz, enquanto houver homens para me encorajar, jamais me esquecerei quem sou.