Estética da miséria
Há compaixão na miséria. Os colares, quando adornam a arrogância nos pescoços, enforcam o espírito fraterno dos homens. Fragrâncias de amêndoas sobre a nuca, de costas ao odor das narinas entupidas por ópio; quando sentem cheiros do próprio esplendor, mas não das bocas ao lado. Se a estética lúgubre do sobretudo veste o coração e a pele, o lume solar não os atinge em seus âmagos.
As estrelas tornam-se orbes de lágrimas, reluzentes gotas de brilho triste, decaídas na misericórdia do mundo. Só podemos ter empatia sentindo-nos a lama da bota, pisoteadas nos dias nublados, rastejadas para trás no pano velho. As manchas de trapos rasgados logo lavadas para serem reutilizadas.
Devemos vestir-nos com a utopia da nudeza: sem censuras para com o outro, mostrando todas as partes da nossa protuberância egoica. Não mais ignorar as vestes e pretensiosas categorias de sujeitos. Passar sobre arvoredos de Éden na terra, apenas pelas rosas-brancas, sentir as diferenças da beleza. Ter na testa sombras de nuvens macias, engradecidas pelos raios do sol.