TENHO UM COLIBRI AZUL (crônica)
Tenho um Colibri azul. Ele é de um azul-céu-lindo. Um ser ousado e louco!
Visita-me o maio de todos os anos. Entra pela porta à caça, rodopia pela minha sala como bailarino experiente, sai pela janela e se encontra na varanda com a minha Flor-de-maio. Ambos se beijam à intensidade.
Terminada a liturgia dos despudores, ele retorna pela mesma janela, baila-se na sala em sinfonias e sai pela porta. Segue sem nada me dizer, sem me olhar, tornando-me na pintura dos fatos um nada de importância.
Há anos recebo a sua visita e com ele aprendi a me maravilhar. Aceitei a ser sempre o coadjuvante da obra encenada. Porém, um dia pleiteei por uma participação mais importante e o aguardei à saída com as mãos em conchas transbordantes de água açucarada. Ele parou diante de mim, olhando-me pela primeira vez e com o olhar falou-me com autoridade:
— Não beijo a sua mão! Ela não é como a Flor-de-maio, não!
Não me zanguei com ele. Afinal, é o meu Colibri azul-céu-lindo ousado louco extasiado tudo misturado. Com ele aprendi a cuidar da nossa Flor-de-maio e, com ela, criei uma profunda e sincera amizade. Por causa dele eu e ela, ano após ano, aguardamos pelos maios: sempre estando esperançados.