Namoros

Namoradores todos o somos.

Pelas janelas da alma e o concurso da luz que nos permite a visão do existir do indivíduo orgânico ou não; é fato que nos limitamos a contemplar, ou mais além, pretender.

Contemplamos, maravilhados, formas sedutoras do que, graças à luz, podemos ver.

Espontaneamente, em silêncio, sobre protesto das cordas vocais, dispensadas, louvamos os corpos da Natureza, uns imóveis, outros dotados de movimento.

Namoramos, contemplativos, a dança dos pássaros em acrobacias, piruetas inigualáveis em voos ousados, altaneiros quanto rasteiros, roçando as suas asas sobre águas de riachos, rios ou mares.

Extasiados ante suas cores variegadas dispostas em nuanças ao infinito dos tucanos, flamingos, araras, pavões.

A convite de Ronaldo R. F. Mourão, volvemos olhares ao jardim do céu pejado de copiosas flores magníficas, coloridas, estelares cintilantes, pulsando, convencendo-nos de uma vez por todas que o fantástico cósmico não é uma lenda ou utopia.

Absolutamente convertidos à beleza natural e social não-humana, não evitamos, se videntes, os tecidos multicoloridos dos órgãos geradores salientes das plantas, pelos vales e quintais, arbitrariamente chamados rosas, margaridas, orquídeas… ao ósculo de Hélio.

Como podereis subtrair-vos de contemplar as filhas inventadas pelo Autor que não subscreve e majestosamente revela-se em Sua criação…

Elas que se elevam imponentes a tudo o que se nos foi permitido namor-contempl-ar, em seu predicado incomum de sorrir, bail(and)ar, multifacear-se em penteados diversos...

Filhas únicas, idôneas, capazes de realizar o sonho da felici(vili)dade - uma realidade palpável, doce, afável qual um beijo cálido extraído de seus lábios úmidos…

Na vitrina, do outro lado, o que se lhe torna menina-dos-olhos.

Um objeto simples, que não modifica em quase nada senão muito pouco a sua situação.

Por ele não irá a um baile de gala em que a oportunidade de uma sorte grande dada pelo dado que rola aleatoriamente muitas vezes incide sobre o seu gênero cognominado belo - por natureza.

Ainda não fisgada pela tônica vigente do consumismo cuja aquisição do objeto confere dignidade alijando cidadania do ser, todavia, deixou-se atrair, vulnerável, à delicadeza da forma cujo design espacial a encanta, de alma genuinamente feminina, acrescendo-se a sua descendência ameríndia, que se amarra em essência, harmonia, alegria das cores, menos que densidade ou algo quantitativo: verdade ou mito, nenhuma moça da cidade supera a vaidade de cunhantã que exulta com presentes de espelho, colares, contas e tintas com que possa pintar sua vida, sua tez.

Então, após sucessivos namoros, criando potência de romper, sem fratura, barreira e distância vítrea a seu objeto de satisfação interior, não obstante por tempo indeterminado, impreciso, na posse de mercadoria equivalente e geral a todas as demais, a que nos acostumamos nominar dinheiro, tão muito bem arduamente acumulado em detrimento dos lanches, do cine, da praia, do esmalte, eis que agora há de calçar seus pés delicados quão delgados, com essa sandália avidamente pretendida.

PLENITUDE

A tua Alma (me pertença)

À janela (corpo e ser)

Dos teus olhos (tua nudez)

Só eu possa merecer.

Dias azuis

Eu namoro como assim

O siamês a borboleta

Cujo pouso grácil o afeta

Sobre o ramo no jardim.

Namorá-la é contemplar

A sua leveza e liberdade

Resistindo à gravidade

De prender-se a meu olhar.

Tão por todos namorada!

A polinizar as flores

Encantada pelas cores

Pelas asas libertada.

Lato sensu

Namorados usufruí

A existência passageira

À sombra de uma palmeira

Ouvindo ainda o bem-te-vi.

Trocai as juras de amor

Entre olhares mui sinceros

Na ausência desse lero-lero

Silêncio em paz comovedor.

Buscai a orla espumante

Os pés imersos na areia

A oscilar a maré cheia...

A mãos unidas de amantes.

Fazei a festa lado a lado

Com sal na água salpicada

Untai de mar a namorada

Retribuí ao vosso amado...

Convidai-a para o salão

A dança seja bem lentinha

Que se permute a orelhinha

Tudo que agrade ao coração.

Não sendo vossa a autoria

Declarai de uma poetisa

À lua plena arranja a brisa

Fazendo a vez da melodia.

Se o amor tornar-vos revelado

Por entre flores vinho ceia

(Em um beijo que desencadeia)

Happy fazei o end esperado.

Seraphim
Enviado por Seraphim em 20/10/2023
Código do texto: T7913077
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