Dissidente
Acordar de manhã e ler algumas páginas de algum livro
Tocar o mesmo acorde da mesma canção
Meu violão
Escutar algum rock ou algum axé
Enquanto preparo o café
O silêncio que disfarça meu mau humor matinal
Sorrir com uma piada infame, cara de pau
Ver que os cabelos não embranquecem, caem
Esnobar as notícias e me atentar na fofoca
Ser chamado de palhaço, idiota e até boboca
Escovar os dentes enquanto tomo banho
Me arrumar depressa embora acordei cedo
Atrasado, mas sempre no horário
Ler uma poesia, sossegar o medo
Há quanto tempo estou longe de mim?
Há quanto que escolhi a morte e não o prazer
Será mesmo quem um dia eu já soube viver?
Apartado, separado, desquitado
Corpo e mente
Estrangeiro no mundo e em mim mesmo
De tudo que eu quero, amo e penso
Sou eu mesmo o dissidente