Fragmentos de Mim

Ela junta os seus cacos como quem cata conchinhas na beira do mar, da praia que não existe mais. Ela constrói poemas de vidro. Ela tece recordações. Ela lembra que houve o tempo dos passos inseguros. Dos caminhos cegos. Houve o tempo do salto alto. Das noitadas regadas a uísque do bom. Houve o tempo de transgredir. De calças jeans rabiscadas à caneta. Das blusas de malha com estampa "peruana". Da coleção de tênis All Star. Tempos de se esconder atrás dos óculos escuros nas madrugadas. Tempos de descobrir a intensidade e o frescor do amor juvenil. Tempos em que tudo parecia ser só loucura. Ela então decide fugir ...

Ela acorda suada de um longo pesadelo. Muito mais que sacudir a poeira ela segue em frente dando voltas acima de tudo...

Hoje. Hoje ela prefere o vento na cara. Cabelos bagunçados. Pra que ser tão certinha? Mas, ela entende perfeitamente que a menininha que quer ser aceita ainda domina a mulher forte e quase segura que ela tem se tornado. Ela conhece o doce sabor de ser de verdade. E ela aproveita. Saboreia. Absorve. Cada milésimo de segundo. Aprendeu que na intensidade dos dias é que se conhece a verdade das coisas. Hoje ela caminha senhora de si. Dona do seu próprio reino. Exatamente hoje ela percebe que está voltando pra casa. E assim, exatamente assim ela se descobre uma princesinha às avessas. Hoje posso olhar bem fundo nos verdes olhos dela. Abraçá-la. Acolhê-la. Porque simplesmente ela faz parte de mim.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 14/10/2023
Reeditado em 14/10/2023
Código do texto: T7908515
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