O cavalo e a forja
Natal parece mais quente
e mais lenta
do que nunca
As sombras refazem o passado.
Salto cada vez pra mais longe, mas o meu corpo é de lata e o coração argila. O cavalgar do tempo fica na esteira dos cascos do cavalo. O chão me desliza embaixo. Vou errante.
Meus pés doem,
meus pés doem.
Tenho um desejo nômade, gigante.
O gosto de língua
As luzes me queimam em fogo louco,
As mãos sempre-procurantes
A pancada de um metal com outro, estanca
Num toda hora ranger
Lembro do som da sua voz,
é o som de mulher que um homem nunca esquece.
Minha pele, de tanto queimar, já não tem mais memória, já não conserva as digitais, já não tem mais história.
O amarelo vestido solar, as mãos são pernas de doçura indomável, a chuva carpideira , os cegos vastos e as feridas acesas, é tudo que eu sei.
As sombras dançam o futuro
O fogo e o metal brilham,
brilham e vergam.
É a minha imitação de luz, de fogueira. E assim que acaba o trabalho, o ofício, engole de novo o escuro.
Vou golpeando a lâmina ainda quente, mecânico.
Já perdi as contas
Tantos homens matei
Já perdi as contas
Tantos homens morri
Já perdi as contas
Várias noites deitei
Várias noites sofri
Já perdi as contas
Meu mantra se quebra.
O estalo aponta um barulho, estou de novo no aqui. Me chama o anjo por engano, me aparece entre o alvo e a seta, me vejo correndo o olhar bem rápido, bem rápido por um destino escapado.
Hesito.
Se fazem testemunha só o martelo e a bigorna.
Natal parece mais quente
e mais lenta
do que nunca