A mesa
Nas manhãs de domingo, sob o teto acolhedor da casa de minha avó materna, ecoam saudades que se entrelaçam com as memórias. Éramos uma família reunida à mesa, pronta para saborear a macarronada com maionese, frango e guaraná, um banquete generosamente patrocinado por meu avô. Esses momentos eram verdadeiros tesouros em nossa história.
A mesa, naquele cenário, era mais que um móvel; era um altar de união. Meus avós insistiam em reservar os domingos para essa celebração familiar. Era um instante singular, onde compartilhávamos não apenas o alimento, mas também a alegria do encontro. O bem-estar pairava no ar, despojado, brincalhão e respeitoso, respeitando sempre os limites, como ensinava a religião deles, com uma oração a preceder cada refeição.
Essa tradição se perpetuou, passando de meus avós para minha mãe e tios, que mantiveram o sagrado costume de reunir a família ao redor da mesa. Ali, cada um tinha seu lugar, e até o pedaço de frango favorito de meu pai era intocado.
Os alimentos transcendiam sua natureza física; eram símbolos de encontro e comunhão. O alimento era apreciado e transformado em assunto de conversa. Minha avó encontrava sua maior alegria na felicidade dos presentes à mesa.
Contudo, a vida contemporânea redefiniu nossa relação com o tempo, ditada pela urgência do trabalho e da produtividade. A mesa, antes permanente ponto de encontro familiar, cedeu espaço ao fast food e ao self-service, onde a nutrição é servida, mas o diálogo e a prosa caseira escasseiam.
A nostalgia da mesa da casa de minha avó me envolve. A saudade me leva de volta ao passado quando a música do sertão ecoava e os aromas do feijão e do frango assado enchiam o ar. Recordo-me da infância, sentado àquela mesa.
E há uma esperança de que, um dia, nos reuniremos em uma grande mesa, convidados para uma ceia grandiosa, não em um restaurante ou self-service, mas na casa do Pai, onde Ele preparou moradas para nós.
Mas será que nossos filhos entenderão a importância da união familiar? Se a didática se perde, se as conversas em família se esvaem, como poderemos transmitir esse legado? A mesa da cozinha não foi retirada; está lá como um móvel, mas esquecemos sua mensagem principal. Trocamos a mesa da cozinha pela televisão e pela internet, afastando-nos cada vez mais da unidade familiar, tornando-nos seres internetizados e televisionados, arriscando a plastificação de nossos relacionamentos.
Precisamos voltar às origens, sair da sala e nos reunir ao redor da mesa da cozinha. Ela deve ser o instrumento doméstico estratégico para nos reconectar com os propósitos da família, que incluem a comunicação entre seus membros.
Lembro-me da Última Ceia, em que Jesus se sentou à mesa com seus discípulos, partiu o pão, distribuiu o vinho e proclamou: "Não comeremos outra refeição até o dia em que cearemos na casa de meu Pai."
Refletir sobre isso nos leva de volta às raízes.