Trilogia ‘’Fotografias Perdidas’’ — II.

Vejo os fragmentos de fotos antigas queimadas no vendaval das dores. Jamais cogitaria sobre como um conjunto de imagens me atormentaria. Azar do lixeiro ao fitar nos escombros carnicentos a minha imagem pueril e de toda a minha família. Estão lá, banhadas no vazio dos aterros do lixo, passando mil dias e mil noites sobre os olhos negrumes dos urubus. Sinto vontade de chorar, porque quase literalmente, vivo sem passado e sem futuro; minhas memórias enganam-me constantemente. A fé nostálgica é mais intensa que Deus, mesmo sabendo sobre o limiar da lembrança e da memória falsa.

Talvez alguém tenha resgatado as fotografias. Talvez, sobre o outro lado da cidade, há alguém investigando a razão da minha infância estar entre os aromas dos resíduos descartados.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 04/10/2023
Reeditado em 10/03/2024
Código do texto: T7901003
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