Meu abrigo
Quando tudo desmorona dentro de mim, sou meu próprio colo. Sou eu que me abraço forte. Lambo delicadamente minhas feridas. E espero o tempo de fecharem os cortes que insistem em sangrar. Não há outro abrigo. Claro, existem os sorrisos sábios, as palavras certas em horas incertas. Mas, quando se desfazem os laços frágeis das certezas, a montanha de areia dos castelos que construí, nada mais resta além do sal das lágrimas que inundam meu rosto cansado. O mundo pode ser feito uma grande ciranda, mãos dadas na dança da vida. Eu sou feita para o silêncio, para a solitude. Não há outro caminho senão a solidão pela estrada afora, floresta adentro, quarto de ossos, sangue escorrendo pelas paredes. O mergulho nas sombras é inevitável. Enfrentar as verdades que foram varridas para debaixo do tapete fofo da sala do universo íntimo e particular me desperta dos dias torpes. Olhos atentos. E o vazio. Depois da tempestade é difícil saber o que vai sobrar. Que nova ordem virá depois do caos. Quando se faz o caminho do porão, depois que a vida nos dá aquela rasteira certeira, difícil mesmo é encontrar o caminho da luz. Difícil é saber esperar o tempo de voltar a sorrir.
*Si*