Nada que dormir não resolva
Sob a majestosa lua, um vestido brilhante. Tento admirar esse brilho com olhos fechados, buscando alívio
para as angústias transmitidas. Busco um verdadeiro descanso, da dádiva divina que poucos têm e que
muitos dizem nos diferenciar dos animais. Acho melhor dormir agora, pois precisarei levantar cedo para o
meu maravilhoso trabalho, que me enxerga como uma lâmpada prestes a ser apagada na escuridão
perdida. Após o trabalho, volto para casa a pé, passando pela calçada que surge no final para ser pisada.
Que bela liberdade eu tenho. Pelo menos escolho meu emprego e gosto tanto dele que não largo, mesmo
que às vezes seus atos me deem medo, mesmo que eu esqueça que preciso do beijo do sono para viver.
Após caminhar uma grande distância, esquecendo que tinha dinheiro suficiente para pegar o ônibus,
chego em casa. Abro a porta e entro na minha residência. Percebo que já escureceu. Lembro que saí um
pouco mais tarde hoje, pois o emprego queria ficar mais um tempo comigo. Vou à cozinha pegar algo para
me saciar e depois vou ao banheiro. Não consigo mais ver as cores. Deito-me na banheira e espero ouvir a
lua me chamar para o sono que tanto desejo. Que ele faça o cansaço, a solidão e a tristeza dançarem para
longe. Que só eu, a lua e sua parceira vida dancemos ao meu lado, até a vida cansar e apresentar seu
irmão que me libertará da minha feliz vivência neste belo mundo que tanto me alegra.
Finalmente, fecho meus olhos e durmo, dançando com a formosa lua e com o irmão da vida com suas
frias vestes. De longe, vejo minha copia sofrida deitada na banheira, com sua tinta vermelho vibrante
tingindo a cor da água, e seu pincel brilhante e afiado caindo ao chão, depois de beijar meu pescoço.