Procraszzzzzztinação

Na quietude monótona de meu aposento, cujas cortinas pesadas mal permitem a entrada tímida da luz do dia, sento-me ante a escrivaninha de madeira nobre. O papel branco, imaculado e desafiador, repousa diante de mim como um campo estéril aguardando ser semeado.

É com a pena erguida e a mente vaga que me vejo mergulhado em um dilema pessoal, uma batalha que ocorre todos os dias, sem trégua. A intenção de produtividade é nublada pelo manto sedutor da procrastinação. A agenda planejada é ofuscada pelos atrativos do ócio.

Neste momento, as sombras do tempo perdido sussurram em meus ouvidos, lembrando-me de promessas não cumpridas, projetos não realizados e oportunidades desperdiçadas. A procrastinação, essa fiel companheira da inércia, tece sua teia de conforto ao meu redor, enquanto o relógio implacável continua seu marchar.

Não é por falta de conhecimento ou desejo que me encontro nesse estado. Anseio por conquistas e realizações, ambiciono o progresso e a excelência, mas permito que o enigma da procrastinação me envolva, como uma bruma que obscurece o horizonte.

A rotina é meu refúgio, e a procrastinação, meu vício. As tarefas importantes são adiadas para um amanhã ilusório, enquanto o presente se esvai como areia fina entre meus dedos. A cada dia, prometo a mim mesmo que esta será a última vez, mas a procrastinação ri, cruel, da minha ingenuidade.

Os momentos de inspiração surgem como raios de luz em um dia nublado, mas logo são abafados pelas nuvens escuras da indecisão e da hesitação. Eu, que deveria ser o mestre de meu destino, me encontro submisso a um hábito vicioso, como um marujo à deriva em um oceano tempestuoso.

E assim, a procrastinação se torna minha lenta agonia, um ciclo repetitivo que mina minha confiança e enfraquece minha determinação. A procrastinação é a sombra que se projeta sobre o sol de minhas ambições, e eu, em meu autoengano, permito que ela persista.

No fim das contas, é o futuro que sofre com minha inércia presente. As oportunidades que escorrem por entre meus dedos, os sonhos que permanecem adormecidos, e o potencial desperdiçado constituem o tributo que pago à procrastinação. E enquanto a procrastinação se alimenta de meu tempo, eu me contemplo como uma vítima de minha própria complacência.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 20/09/2023
Código do texto: T7890117
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